Firmezas e Assentamentos na Umbanda

NOTA DO VÍDEO: No minuto 4:35 falo das quartinhas, no momento da gravação falei errado infelizmente, estou corrigindo aqui em nota! 
QUARTINHA COM ALÇA = FEMININO
QUARTINHA SEM ALÇA = MASCULINO

Firmezas e assentamentos na Umbanda: entenda!

Uma das maiores dificuldades para os médiuns umbandistas encontra-se no campo das firmezas e assentamentos de forças e de poderes que lhes darão a sustentação, a defesa e o amparo em seus trabalhos ou em suas sessões espirituais.

O assunto é complexo e sua abordagem é delicada porque, tal como no campo das oferendas, algumas coisas mudam de pessoa para pessoa e o que é certo e necessário para uma não é para outra força (ou outro poder).

Usamos a palavra força para o que é espiritual ou provem do espírito.
Usamos a palavra poder para o que é divino ou provem da divindade.
O que é espiritual não é divino e vice versa. Logo, é necessário que usemos as palavras que diferenciem e classifiquem corretamente as entidades que formam o lado invisível da criação e que estão dando sustentação a Umbanda.

Poder é algo permanente, estável e realiza-se por si só na vida de seus beneficiários, não dependendo de nada além de Deus para influir sobre tudo e todos em seu campo ou faixa de atuação.
Força é algo transitório, instável e em permanente evolução, as vezes mostrando-se em seu estado potencial e outras mostrando-se em atividade, sempre dependendo da existência do poder para ser colocado em movimento e beneficiar-nos.
Há diferença entre poder e força e entre divindade e espírito. A divindade é o poder, o espírito é a força!

A divindade realiza-se por si na vida dos seres porque é em si a ação, enquanto o espírito só pode e consegue agir sobre os seres se a divindade lhe conceder poderes para tanto.

Tomemos como exemplo o Orixá Ogum e os Caboclos de Ogum, para que não fiquem dúvidas quanto as diferenças que existem entre poder e força.

Ogum é Orixá ordenador da Criação e modelador do caráter e da moral dos seres, visto que ele é o poder em si manifestado por Deus para atuar sobre tudo e todos ao mesmo tempo sem que nunca perca seu poder se atuação; nunca se enfraqueça; nunca deixe de ser onipotente, onisciente e oniquerente.
Ogum é o poder de Deus em ação permanente, imutável e intransferível; o que Ogum faz só Ogum pode e consegue fazer. Ele independe de algo mais de Deus para ser o que é ou como é, e nada posterior ou inferior a ele influencia-o ou altera esse seu estado de ser e de poder.

Ele modela o caráter e a moral dos seres. Independentemente de sua vontade, sua influência se faz sentir na própria consciência de todos os transgressores das leis divinas e humanas, não importando se conhecem ou não Ogum, pois “Ogum é um dos nomes humanos já dados a esse poder, que já recebeu outros nomes e no futuro receberá outros”.

Tenha o nome que lhe for dado, ainda assim ele continuará a ser o que é: o poder modelador do caráter e da moral dos seres e o ordenador divino dos procedimentos. O poder de Ogum é inalterável, estável, permanente e independe de um nome para atuar sobre tudo e todos em sua faixa ou campo de atuação na Criação.

Quanto à força [e seu conceito] pegamos como exemplo para defini-la os Caboclos de Ogum, para que fique bem claro o seu significado.

Um Caboclo de Ogum é um espírito em constante evolução consciencial e, a partir dessa sua evolução, novos campos ou faixas de atuação vão lhe sendo abertas pelo Orixá ou poder Ogum.

Quanto mais o Caboclo de Ogum evolui e se aperfeiçoa consciencialmente, maior é o seu campo de ação e maior é seu poder de atuação sobre outros seres espirituais, aos quais ampara, direciona e modela no caráter e na moral.

O poder [é divino] e realiza-se por si só.
A força só se realiza por intermédio de algo ou de alguém.
O poder tem atuação permanente e atua “por dentro” das coisas ou dos seres.
A força tem atuação limitada no tempo e atua “por fora” das coisas ou dos seres.
O poder regula a natureza, seja a de um ser ou do meio em que ele vive, proporcionando-lhes estabilidade e equilíbrio interior, enquanto a força altera essas naturezas, proporcionando-lhes alterações e reequilíbrios ou adaptações exteriores.

Em um meio cuja a natureza é fria, tal como as regiões próximas dos polos, vivem seres (animais, aves, peixes, plantas, etc.) específicos dele. Já nós, os seres humanos, se quisermos viver nessas regiões, temos que construir moradias especiais; temos de cobrir nosso corpo com roupas especiais e temos de trazer de longe alguns artigos indispensáveis à nossa sobrevivência.

A natureza terrestre é regulada pelo poder. Nós recorremos à força para alterarmos o meio natural de alguma forma, adaptando-o externamente às nossas necessidades porque, “internamente”, as regiões polares sempre serão frias e não conseguiremos mudar esse seu “estado”.

Recorrendo a esse exemplo, podemos diferenciar o poder e a força porque enquanto poder ele faz os polos serem como são e esta, enquanto força, só pode alterá-lo se criar adaptações para que os seres não pertencentes à sua natureza neles sobrevivam.

O poder de Ogum, por modelar de dentro para fora, faz com que os meios sejam como são, cada um com sua natureza específica. E o mesmo faz os seres, proporcionando uma natureza íntima específica para cada espécie.

Vivendo em seus habitats naturais, são hoje como eram no passado pré-historico e esse “modo de ser” de cada espécie permaneceu inalterado ao longo dos tempos. Se ocorreram mudanças elas foram “por fora”, para adaptá-los a algumas mudanças físicas e climáticas. Conosco também ocorreu isso e “internamente” somos os mesmos que éramos quando Deus nos criou. Nossa natureza íntima permaneceu inalterada e, se ocorreram mudanças, foram externas.

Assim, o poder modela as coisas (natureza, seres, espécies inferiores, etc) de dentro para fora, dando-lhes um estado específico que é permanente, diferenciando umas das outras e qualificando-as.

Já a força entra em ação quando as alterações exteriores começam a descaracterizar as coisas, desqualificando-as ou desequilibrando-as.

Por isso Ogum (o poder) tem nos espíritos graduados instrumentos da lei e de suas forças, que são colocadas em ação sempre que as atuações de dentro para fora já não são suficientes para manter o equilíbrio.

É nesse ponto, nessa necessidade da atuação de fora para dentro, que os espíritos (a força) adquirem importância e tornam-se indispensáveis para a manutenção do equilíbrio entre o lado interior e o lado exterior dos seres, dos seres e da própria Criação como um todo.

Firmezas e assentamentos: justificativas
Então, como vimos, o lado divino da Criação atua de dentro para fora e os Orixás vivem no seu lado divino. Assim foi preciso a criação de algo que permitisse a exteriorização desse poder e sua colocação em ação a partir do próprio meio em que os seres vivem. Dessa necessidade surgiram os santuários naturais, os templos, os altares, os assentamentos, as firmezas, as oferendas, as imagens, os instrumentos mágicos, etc.

Não se trata de animismo, de paganismo, de idolatria, de fetichismo etc., mas de formas de exteriorização do poder para que melhor ele possa nos auxiliar e nos beneficiar “dentro” do próprio meio em que vivemos.

Como nosso assunto é firmezas e assentamentos de poderes e de forças pelos médiuns e dirigentes espirituais umbandistas, cremos que está justificado o ato de assentarem os Orixás e Guias espirituais para que melhor possam ajudar as pessoas necessitadas desse auxílio adicional que Deus nos franqueou e colocou à nossa disposição.

Um assentamento é um local especial porque nele há um portal “tridimensional” que interage de forma permanente entre as três dimensões ou lados da vida: o lado divino, o natural e o espiritual.

Essas três dimensões ou lados da vida já interagem de forma permanente nos santuários naturais consagrados aos poderes e às forças e neles podemos entrar e trabalhar em nosso benefício ou no dos nossos semelhantes.

Mas em nossa casa ou em nosso centro, aí se faz necessário o auxílio dos assentamentos para que os três lados possam interagir e realizar ações corretas em benefício dos necessitados, sem que estes tenham de ir até a natureza continuamente. Assentam-se forças divinas, naturais e espirituais.

Esses assentamentos são importantes porque são em si portais multidimensionais e interagem com realidades de vida ainda desconhecidas por nós, os espíritos encarnados.

Mas, como afirmamos no início, uma das maiores dificuldades dos médiuns e dirigentes umbandistas reside nesse campo porque há um grande desconhecimento sobre firmezas e assentamentos das forças e poderes que sustentam e se manifestam por intermédio da religião e da mediunidade dos seus praticantes.

Um assentamento é algo abrangente e envolve todo um poder.
Uma firmeza é algo mais limitado e concentra-se em uma entidade, seja ela divina, natural ou espiritual.
Firma-se um Orixá, um ser da natureza ou um espírito! Agora, um assentamento é algo tão abrangente que ele por si só é realizador e é capaz de dar sustentação a todas as ações realizadas dentro do campo abrangido por ele: o Centro de Umbanda.

O que é um assentamento?

Assentamento é o local onde são colocados alguns elementos com poderes magísticos, com a finalidade de criar um ponto de proteção, defesa, descarga e irradiação.

Um assentamento pode ser destinado a uma só força ou poder ou a várias. Mas, em geral, faz-se um para cada força ou poder que se deseja assentar.

Por que assentar uma força ou poder?
Bom, as forças vivem no plano espiritual e os poderes vivem no plano divino da Criação e, a partir deles, enviam-nos suas vibrações, auxiliando os trabalhos espirituais que são realizados nos Centros de Umbanda.

Esse auxílio é natural porque se processa religiosamente. Mas, como em um trabalho espiritual vêm pessoas com poderosas cargas negativas, é preciso que exista no plano material pontos de descarga que possam absorvê-las e enviá-las de volta à faixas vibratórias negativas. Esta é uma das funções de um assentamento de força e de poderes.

A entidade assentada (Orixá ou Guia Espiritual) tem no assentamento elementos com poderes mágicos, os quais utiliza ativando-os segundo as necessidades do Centro, do trabalho espiritual e dos médiuns. Em regra, faz-se um assentamento central e daí em diante começa a firmeza de outras forças ou de outros poderes ao seu redor, aumentando seu campo de ação e de atuações.

Se é o assentamento de um Orixá, outros não devem ser assentados ao redor ou ao lado dele, porque cada um é um poder realizador em si mesmo, e dois ou mais assentamentos dentro de um mesmo ambiente criam dois pontos distintos que farão a mesma coisa e o recomendado é que, caso alguém queira assentar dois ou mais Guias ou Orixás, então deve reservar um ambiente para cada um, separando-os e isolando-os para que suas vibrações, irradiações, ações e atuações não se misturem e não se confundam. Por isso existem os assentamentos e a firmezas.

Os assentamentos criam vórtices ou “pontos de forças”, enquanto as firmeza de outros Guias e Orixás dotam-no de um maior poder de realização.

Esse aumento de poder de realização deve-se ao fato de que os Guias e os Orixás firmados ao redor do assentamento central “emprestam-lhe” suas forças e poderes e abrem-lhe seus campos de ações e atuações, aumentando o leque de opções ao Guia ou ao Orixá assentado, que lhe repassará atribuições às quais exercerão com desenvoltura, porque terão no assentamento um poderoso ponto de descarga, de proteção e de auxílio nas suas ações mais profundas.

Normalmente se assentam o Guia-chefe e o Orixá regente da coroa do dirigente espiritual, assim como ao seu Exu e/ou sua Pombagira Guardiã.

Os assentamentos do Guia-Chefe e do Orixá devem estar localizados dentro da construção que abriga o Terreiro.
Os assentamentos do Exu e/ou da Pombagira Guardiã devem ser feitos do lado de fora da construção principal que abriga o Terreiro, ainda que também possa estar dentro de outra construção de menor porte.
O ideal (ainda que isso nem sempre seja possível) é que os assentamentos dos Orixás e dos Guias-Chefes da Direita e da Esquerda se localizem em cômodos isolados e com acesso restrito, inacessível ao público.

Quando o Centro não tem espaço para tanto, aí o recomendado é que assentem o Orixá e o Guia-chefe da Direita sob o altar e o Exu e/ou a Pombagira Guardiã em uma casinhola na entrada do terreno que abriga o Terreiro.

Centros localizados em terrenos e construções amplas tem mais facilidade para fazê-los. Já nos menores, aí é preciso um pouco de criatividade para fazer os assentamentos e as firmezas ao redor.

O que é uma Firmeza?

A firmeza de uma força ou de um poder pode ser feita ao redor de um assentamento ou independente dele. Firmar um Guia espiritual ou um Orixá significa proporcionar-lhe condições mínimas para que tenha um ponto fixo onde receba os pedidos de auxílio, de oferendas, etc.

A firmeza assemelha-se a um assentamento, mas tem menos recursos ou poderes de realização, pois é uma simplificação dele e destina-se a facilitar a atuação das entidades.

Um assentamento cria um vórtice e um campo eletromagnético que interagem com outras dimensões da vida de forma permanente, sendo em si um “ponto de força” localizado nas dependências do Terreiro.

Enquanto isso, uma firmeza cria um ponto de sustentação para as ações da entidade firmada, dando-lhe um pouco mais de segurança para que possa resistir às reações das suas atuações em benefício das pessoas necessitadas do seu auxílio.

Um assentamento assemelha-se a uma fortaleza que abriga um exército completo, com todas as suas divisões.
Uma firmeza assemelha-se a instalação avançada de uma divisão.
Um assentamento é algo definitivo; uma firmeza pode ser transitória.
Um assentamento deve ser iluminado de forma permanente e deve ser alimentado periodicamente com elementos predeterminados.
Uma firmeza pode ser iluminada periodicamente e pode ser realimentada de vez em quando.
Um assentamento deve ter um dia definido na semana para ser iluminado e realimentado.
Uma firmeza deve ser iluminada e realimentada sempre que o seu zelador fizer um novo pedido de auxílio à entidade firmada.
Firmezas e assentamentos são similares, porém a primeira é uma simplificação da segunda, mas tem as mesmas funções, que é protegerem, sustentarem e ampararem algo ou alguém.
Fonte: Rituais Umbandistas. Rubens Saraceni. Madras

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